quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Foto comovente provoca debate na internet

Numa época em que há muita discussão sobre o papel das mulheres na Igreja, um cardeal demonstrou o poder do respeito capturado em uma comovente foto que tem provocado aprovação entusiástica bem como críticas veementes.
A Rev. Anne Robertson era a única pastora mulher a participar de uma celebração ecumênica que comemorou o 50º aniversário de um evento histórico:  a ocasião em que o cardeal Richard Cusching discursou na Igreja Metodista, emSudbury, numa época de tensão entre católicos e protestantes, relata do jornal The Patriot Ledger.
A informação é publicada por National Catholic Reporter, 17-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Cardeal de Boston, Dom Sean O’Malley, frei capuchinho, surpreendeu muitas pessoas ao pedir à Rev. Robertson, uma pastora da Igreja Metodista Unida, para benzê-lo-la com óleo em um ritual ecumênico batista na Igreja Metodista Unida, em Sudbury, também segundo o jornal The Patriot Ledger.
O gesto espontâneo e genuíno quase levou a Rev. Roberston às lágrimas. Ela contou ao Huffington Post que “se sente agraciada por aquelas vezes em que as pessoas conseguem ver além daquilo que as divide e enxergam a nossa humanidade comum; neste caso, a nossa fé em comum”.
A pastora escreveu sobre a experiência em seu blog:
"Nem sempre os encontros ecumênicos são eventos acolhedores para as mulheres. A maioria de nós vivenciou muitos tipos de exclusão, mesmo dentro de nossas congregações; muitas de nós foram deixadas de lado quando tentamos nos juntar a grupos cristãos que não acreditam que as mulheres são aptas para a ordenação. E nestes grupos pode muito bem haver aqueles que não querem tal bênção advinda de algum protestante, mesmo sendo de um pastor. Eu fiquei pensativa assim que tive em mãos o vaso com o óleo.
A nossa saída em direção à sala de escuta levou-nos diretamente a passar pelo cardeal O’Malley. Felizmente, o cérebro do Tom [um religioso que acompanhava o encontro] estava mais engajado no momento, e não perdeu a oportunidade de ser ungido por alguém que poderá ser papa um dia. Tom parou em frente ao cardeal e pediu sua bênção. Parei junto dele e o cardeal O’Malley foi gentil o suficiente para me benzer também.
E então, na medida em que nós dois estávamos parados ali juntos, o cardeal olhou em meus olhos e me pediu para bênze-lo. Eu o fiz. Religiosa escocesa protestante, divorciada, ungindo o cardeal católico irlandês em frente a um banco com sacerdotes católicos e um bispo, os quais provavelmente dariam tudo para ter esta honra. Segurei os soluços durante todo o caminho até o local de volta".
Diferentes reações à foto vêm se misturando na internet, escreve o jornal The Globe. Enquanto Michael Potemra, doNational Review, aplaudiu o cardeal por “fazer ecumenismo de forma correta”, alguns bloggers conservadores católicos expressam-se dizendo estarem “chocados” pelo “ritual falso” por parte do cardeal.
Numa entrevista por telefone, a Rev. Roberston contou ao Huffington Post que o incidente a fez lembrar da verdade presente na passagem bíblica de Gálatas 3:28, de que “já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus”. E continuou: “Jesus foi ao encontro das mulheres; e isso foi uma das coisas que sempre lhe criaram problemas! Ele foi ao encontro dos intocáveis e dos vulneráveis”.
A Rev. Robertson disse ao Huffington Post que está acostumada com comentários de ódio na qualidade de mulher ministro. Entretanto, disse ela, “meus colegas no ministério vêm me dando muito apoio e a maioria tem o sentimento que, creio eu, se pretendeu ter: ir ao encontro como um símbolo de que, quaisquer que sejam as nossas diferenças, somos seres humanos servindo a Deus em nosso próprio caminho com fidelidade e que somos um neste momento”
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/527418-foto-comovente-provoca-debate-na-internet#.Ut8pIZu_blE.facebook

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Você conhece o hino Oficial da IPU do Brasil.



Você conhece o hino Oficial da IPU do Brasil? Hoje vamos postar este vídeo e a letra abaixo para que você conheça, aprenda e as próximas postagens vamos comentar a teologia desta linda canção composta pelo Rev. João Dias de Araújo quando ele, então com 36 anos, fazia mestrado em teologia de Calvino no Seminário de Princeton, nos Estados Unidos, o maestro brasileiro João Wilson Faustini, também residente naquele país, lhe sugeriu que escrevesse a letra de um hino que falasse sobre o compromisso dos cristãos contra a injustiça e a miséria social. Foi assim que nasceu, em 1967, o hino “Que estou fazendo se sou cristão?” A música é do médico e pianista presbiteriano Décio Emerique Lauretti, residente em São Paulo. Para sacudir a igreja brasileira, seria muito bom se todos os cristãos de nosso injusto país cantassem com freqüência o hino ao lado: 

Que estou fazendo se sou cristão,
Se Cristo dau-me o seu perdão?
Há muitos pobres sem lar, sem pão,
Há muitas vidas sem salvação.
Mas Cristo veio pra nos remir,
O homem todo, sem dividir:
Não só a alma do mal salvar,
Também o corpo ressuscitar.

Há muita fome no meu país,
Há tanta gente que é infeliz,
Há criancinhas que vão morrer,
Há tantos velhos a padecer.
Milhões não sabem como escrever,
Milhões de pobres não sabem ler:
Nas trevas vivem sem perceber
Que são escravos de um outro ser.

Que estou fazendo se sou cristão,
Se Cristo dau-me o seu perdão?
Há muitos pobres sem lar, sem pão,
Há muitas vidas sem salvação.
Aos poderosos eu vou pregar,
Aos homens ricos vou proclamar
Que a injustiça é contra Deus
E a vil miséria insulta os céus.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Conheça o homem que é considerado o mais feliz do mundo

Por muitos apelidado de "o homem mais feliz do mundo",  Matthieu Ricard (foto) brindou a comunidade com a sua palestra sobre os Hábitos da Felicidade numa TEDtalk de grande importância para todos os que acreditam que é importante ser feliz. Leia sem "pré-conceitos religiosos" e veja o que ele responde como lhe perguntam: "Um budista tem mais probabilidade de ser feliz do que um cristão ou ateu?"

Era para ser cientista mas acabou monge budista. Filho do filósofo Jean-François Revel e da pintora Yahne Le Toumelin, o francês Matthieu Ricard, 65 anos, cresceu no meio intelectual de Paris e doutorou-se em genética molecular. Aos 38 anos abandonou a carreira para ir viver nos Himalaias e tornar-se monge budista, mas o interesse pela ciência permaneceu.

Desde 2000 que ele é membro do Mind and Life Institute, que promove o diálogo e a investigação entre cientistas e budistas, e participa em estudos sobre a consciência e o treino da mente com investigadores de vanguarda. Numa das mais recentes, os cientistas ligaram 256 sensores ao seu cérebro enquanto meditava e as imagens mostraram o mais alto nível de atividade alguma vez registado no córtex pré-frontal esquerdo, associado às emoções positivas. A escala variava entre +0.3 a -0.3 (beatífico) e os resultados de Matthieu Ricard situaram-se fora da escala por mais de -0.45. Foi a primeira vez no mundo que isto aconteceu.


É conhecido por ser o homem mais feliz do mundo. Porquê?

Receio que isso não seja culpa minha. Um jornalista lembrou-se de usar essa expressão, mas não corresponde à verdade. Surgiu no contexto das investigações científicas sobre os efeitos da meditação feitas pelo Instituto Mind and Life Institute,  nos EUA. Fui um dos participantes, mas houve outros e, de resto, os resultados são relevantes precisamente porque não se resumem a uma pessoa.

Em que consistiram essas experiências?

Basicamente no estudo do cérebro de monges experientes em meditação. Pegamos num conjunto de pessoas que nunca tinham meditado e ensinamos-lhes técnicas de meditação budista, que praticaram por um mês. Depois usamos eletroencefalogramas e ressonâncias magnéticas para comparar a atividade do cérebro dos monges e dos meditadores recentes durante a meditação. Nos recentes havia poucas diferenças, mas nos monges a meditação sobre a compaixão ativou de forma poderosa o lobo frontal esquerdo, que é a zona do cérebro associada às emoções positivas.

Quais são as implicações dessas experiências?

Mostram que é possível modificar padrões cerebrais – aquilo a que se chama neuroplasticidade – neste caso com o objetivo de sermos mais felizes. Já sabíamos que o treino modificava o cérebro em músicos ou nos taxistas londrinos obrigados a memorizar milhares de ruas. Agora sabemos que pode desenvolver zonas associadas à felicidade e ao bem-estar.

Podemos treinar a felicidade, é isso?

Sim. A felicidade é uma habilidade e pode ser cultivada. Eu não caí em nenhuma poção mágica quando era pequeno. O que conquistei foi graças a um caminho - o Budismo - que me permitiu aprender estas técnicas. Fui um adolescente perfeitamente normal, com todas as incertezas e angústias da idade. Não tive grandes dramas, mas estava confuso e, nesse sentido, não me considerava feliz. Na altura, a minha motivação era tornar-me um ser humano melhor.

Não encontrou respostas nas tradições ocidentais?

Não digo que não existam mas não as encontrei de forma satisfatória. Uma das razões foi porque as pessoas que via a ensinar não me transmitiam a coerência que vim  a encontrar no Oriente. Não é que fossem más pessoas, mas não eram especialmente boas, por isso tornar-me iguais a elas não fazia sentido. Quando conheci o Dalai lama foi diferente. Pensei ‘Como é que ele se tornou assim?’. Aquilo interessou-me, porque ele era um exemplo vivo de que os ensinamentos budistas funcionavam.

O que é que temos de aprender exatamente?

A felicidade é uma forma de ser. Se não somos particularmente felizes temos de aprender a cultivar essa forma de ser. Tudo começa por eliminar as toxinas mentais, como o ódio, a obsessão, o ciúme, a arrogância, o orgulho o desejo, enfim, tudo o que nos torna seres disfuncionais, e cultivar as qualidades positivas que integram a felicidade, como o altruísmo, o amor, a compaixão ou a criatividade. Isto faz-se trabalhando a mente. Aos poucos alguns desses venenos mais grosseiros começam a esbater-se e o resultado é uma espécie de liberdade grande ou felicidade.

"O mundo não é um catálogo de encomenda dos nossos desejos e nunca vai ser perfeito. Se vemos a vida dessa forma estamos em sarilhos"

Esses sentimentos não são o que nos torna humanos?

A questão não é negá-los. Quando falamos de emoções positivas ou negativas não é no sentido de virtudes ou defeitos, não há aqui julgamento moral. É no sentido de que cada uma destas qualidades contribui para um sentimento de florescimento e bem-estar. Uma emoção é má se nos provoca sofrimento.

Hoje em dia nunca sente emoções negativas?

Seria arrogante dizer isso, mas posso dizer que não sinto as mais negativas como ódio. Irritação sim. Mas sinto-as com muito menos intensidade e assim que surgem estou completamente consciente delas e possuo uma serie de métodos para lidar com isso. Não as nego. Por exemplo, quando vim para aqui atrasei-me devido ao trânsito e fiquei com receio de perder o comboio, o que iria deixar várias pessoas à minha espera…

O que podemos fazer em situações dessas?

Primeiro, perceber que a ansiedade é inútil. No meu caso, não me ia deixar menos atrasado. Depois, perceber que se deixar a ansiedade encher a minha mente vou ficar num estado miserável. Uma das principais qualidades da mente é a capacidade de permanecer consciente de si mesma. Isso permite-nos tomar consciência das nossas emoções. O que é isso de estar consciente da ansiedade? É algo diferente de estar ansioso, certo? Uma mente consciente da ansiedade já não é uma mente completamente ansiosa, está ansiosa e ao mesmo tempo consciente da ansiedade, logo, já não está completamente cheia de ansiedade, há uma parte dela livre disso. Se continuarmos a a tornar a mente mais consciente, a ansiedade vai perdendo força porque deixamos de alimentá-la. Não a bloqueámos, deixámos só que se desvanecesse. Quando ficamos familiarizados com este processo, as emoções continuam a aparecer mas com menos força e gradualmente levaremos cada vez menos tempo a dissolve-las.

Cultiva-se uma espécie de desapego em relação às emoções más?

Às más e às boas. Mas é preciso ter atenção: as pessoas confundem o desapego com a indiferença e acham que se trata de não ter sentimentos, não é isso. Suponha que tem uma experiência fantástica. Isso é ótimo, não há nada de errado com o prazer, mas se começamos a agarrar-nos a ele e a transformá-lo numa necessidade, converte-se num  tormento. O que acontece quando temos condições interiores para o bem-estar, é que ganhos e perdas, prazer e dor, sucessos e falhanços perdem relevância. Então, é fantástico se as coisas correm bem, mas não é um drama se correrem mal. O nosso controlo das circunstâncias exteriores é mínimo e no fim estamos sempre à mercê das nossas mentes.

Vive num mosteiro no Nepal. Trabalhar das 9 às 5 num escritório é mais ou menos desafiante?

Claro que podem dizer que é mais fácil sendo monge, mas eu trabalho sete dias por semana no mosteiro. Gosto do que faço, não sei o que significa férias e ninguém me paga. Quando vou para a minha cela o meu trabalho é meditar, não é um emprego, mas é a minha ocupação.

Fez uma mudança  de vida radical…

Foi uma escolha. Antes de ser monge fazia investigação científica e gostava mas fui à Índia, senti-me melhor do que nunca e perguntei-me ‘Onde quero passar o resto da vida?’. Se estamos a fazer o que queremos está tudo bem. Hoje vivo numa cela de 2,5x por 2x9m, com uma vista fantástica sobre os Himalaias. Não tenho água quente, só uma malga e duas colheres, não sinto falta de nada. Consigo apreciar quando estou numa casa confortável, mas se não estiver também estou bem. Vivi 10 anos no Butão. O meu professor ensinava a rainha-mãe e um dia ela insistiu para ir no carro dela, um carro fantástico. Então lá ia eu de carro com a rainha-mae do Butão. No dia seguinte o meu professor mandou-me de volta ao mosteiro e tive de ir nas traseiras de um camião. Eram circunstâncias diferentes mas eu não sentia ‘Uau vou num Mercedes’ num dia para me sentir infeliz por ter de ir num camião no outro. Era divertido.

Há condicionamentos biológicos para a infelicidade?

Há predisposições que, numa pequena percentagem, podem ser genéticas, mas a epigenética ensina que os genes podem ser expressos ou não, ou seja, o facto de haver um master plan, o genoma, não significa que ele seja executado. É como ter um projeto de uma casa. Quando a construímos podemos fazer alterações. Também temos de contar com o ambiente: se crescemos sem amor, com abusos, é dramático porque somos logo forçados ao sofrimento. Mas ainda assim chega  um tempo em que podemos lidar com isso. Existe sempre um potencial para a mudança.

Nas pessoas habituadas a ser infelizes esse desafio é maior?

O essencial é perceber que  é sempre possível cultivar condições que nos ajudem a ser melhores. Quando estive a estudar na Universidade de Montreal havia um professor que costumava correr quando era novo. Começou a treinar novamente e o ano passado participou na maratona. A ciência demonstrou que a neuroplasticidade cerebral – a capacidade de mudar a estrutura do cérebro – é independente da idade. As pessoas mais velhas são perfeitamente capazes de mudar os seus cérebros com o treino. No Tibete há imensas histórias de pessoas que começaram a meditar aos 80 anos com ótimos resultados.

"A felicidade é uma forma de Ser que integra qualidades como o altruísmo e a criatividade. Podemos cultivá-las"

Porque resistimos à mudança?

É um grande mistério. Acho que temos um tipo de hesitação em olhar para dentro. Conheci gente nova que me disse ‘Não quero olhar para dentro, tenho medo do que vou encontrar’. É surpreendente. Não sei o que é que têm medo, mas contei isto ao Dalai Lama e ele disse ‘Há tantas coisas interessantes lá dentro. É melhor do que ir ao cinema!’. Há um fator determinante: a inspiração. Se temos uma razão para mudar é mais fácil. Pelo contrário, o maior perigo é desistir. Por um lado, as pessoas pensam sempre que podiam estar pior, por outro admitem que há coisas que gostavam de alterar mas acham que não é possível porque já são assim há muito tempo ou  é muito difícil. Por isso é que a primeira coisa a fazer é reconhecer o potencial de mudar. Porque a verdade é que qualquer treino tem sempre um efeito. Sempre. Há um bocadinho de inércia, esse é o principal obstáculo. Depois precisamos de algum interesse, e este só aparece se virmos um benefício. No meu caso, foi conhecer um professor especial, porque vi os resultados do treino à minha frente, não tive de acreditar porque alguém me disse.

Como reverter o paradigma do ‘não sou capaz de mudar’?

Primeiro temos que refletir nos aspetos que nos mostram que é possível mudar. Dizemos que a raiva ou inveja são parte da natureza humana. Mas há muitas maneiras de ‘fazer parte’. Se algo faz parte da natureza intrínseca de outra coisa é impossível alterar isso. Mas se não fizer parte intrínseca posso fazer alterações. Por exemplo, em essência a água é H2O. Se lhe adicionar plantas fica medicinal, se juntar cianeto torna-se mortal, mas continua a ser H2O, o que lhe acrescentei não faz parte da sua essência e posso removê-lo. Há algo parecido na mente. As emoções negativas são como o cianeto e as positivas como as plantas medicinais, mas existe uma qualidade da mente independente disso que se chama Consciência Essencial ou Luz Clara da Mente. Esta qualidade essencial é o que nos permite ter consciência das nossas emoções.

Temos de encher a mente de ‘emoções medicinais’?

Sim. Por exemplo, se a raiva é o meu principal problema, qual é o oposto da raiva? Benevolência. Se eu cultivar a benevolência, enchendo a minha mente com este sentimento, talvez ele se torne mais forte e neutralize a raiva, porque os dois são mutuamente incompatíveis.

Não é possível ter emoções ambivalentes?

Não, o que chamamos emoções ambivalentes são de facto emoções contraditórias, mas não ocorrem ao mesmo tempo embora a oscilação possa ser muito  rápida. Sempre que sentimos, nem que seja por um segundo, amor e simpatia, não podemos querer fazer mal. O que há a fazer, é aumentar o tempo em que nos concentramos nas emoções positivas e isso é uma questão de treino.

A meditação tem efeitos sobre o sofrimento físico?

Há um filósofo suíço chamado Alexandre Jollien que fala disso. É uma pessoa fantástica, fabuloso filósofo, mas incapacitado fisicamente. Hoje é  um orador inspirador mas conta que todos os dias nos transportes alguém o ridiculariza. Não é fácil, ele odeia o seu corpo de certa maneira, apesar de ter ganho paz acerca disso. Nos problemas mentais pode ser mais difícil, mas a depressão é um campo onde a meditação pode ser muito poderosa. Há muitos estudos sobre isso. Obviamente é difícil começar a meditar quando se está no pico de uma depressão porque não se tem vontade, mas nas pessoas que já tiveram pelo menos dois episódios e estão realmente fartas daquilo os programas de meditação baseada na atenção plena reduziram em 40% o risco de recaída.

Se deixamos de meditar os efeitos  perduram?

Perduram porque mudaram a nossa maneira de Ser. É como andar de bicicleta. Sempre que dominamos uma nova capacidade ela fica adquirida, ainda que o treino melhore o desempenho. Para aprender a andar de bicicleta tivemos de alterar circuitos neuronais, o mesmo acontece quando meditamos. No fundo, meditar é aprender uma forma diferente de experienciar o mundo. Quando estou a trabalhar não estou a meditar, mas em quase todos os momentos uso capacidades que adquiri na meditação e assim continuo a reforçá-las. Fazendo isso a vida torna-se parte da meditação.

Muitos começam a meditar e desistem. A felicidade dá trabalho?

Sim, mas é um esforço gratificante. A meditação inicialmente pode não ser divertida. Há uma expressão de tibetana que diz “No início nada vem, no meio nada fica, no fim nada vai embora”, ou seja, no início não vemos os benefícios, é quando podemos desistir; no meio vemos alguns, mas depois deixamos de ver outra vez; no fim atingimos o objetivo e nunca mais o perdemos. O tempo destas fases varia de pessoas para pessoa, mas só o facto de começar a meditar já é raro nos dias que correm.

A felicidade faz parte da natureza humana ou foi uma conquista evolutiva?

Pessoas infelizes têm menos iniciativa e até menos interesse em reproduzir-se pelo que em termos evolutivos ser infeliz não é uma vantagem para a espécie. É um facto que em termos gerais, as pessoas dizem que, apesar de tudo, estão mais satisfeitas do que não satisfeitas com a sua vida. Não estamos sempre deprimidos porque isso não seria bom para a espécie. É o que dizem os evolucionistas.

Essa satisfação mediana não é o conceito de felicidade budista…

O meu conceito de felicidade não se limita a uma satisfação mediana nem se confunde com o conceito de prazer. O prazer depende das circunstâncias, pode contribuir para a felicidade ou ir contra ela. Adoro música clássica, mas ouvir 48 horas de chopin non stop é um pesadelo. Também podemos sentir prazer a torturar pessoas. A felicidade é quase o oposto. É algo que está ali, independentemente do sofrimento ou dos prazeres passageiros. Quanto mais nos confrontamos com os altos e baixos da vida, mais a reforçamos porque ficamos menos vulneráveis às circunstâncias exteriores.

Podemos ser felizes sabendo que outros sofrem?

A tristeza é incompatível com o prazer mas não com a felicidade. Podemos estar tristes sabendo que há pessoas a morrer à fome mas não temos de estar desesperados e podemos ficar determinados a ajudar. Neste sentido a determinação em fazer algo para acabar com o sofrimento faz parte da minha felicidade.

E é possível ser feliz quando somos vítimas de violência?

Para a felicidade é muito pior fazer mal aos outros do que nos fazerem mal a nós. Não quer dizer que temos de ser passivos se nos agredirem, mas se não pudermos evitar só temos de lidar com isso. No fundo, felicidade é usar todas as circunstâncias de forma construtiva.

Então ser infeliz é uma escolha?

É uma escolha a longo prazo, não  agora. Se algo mau acontece e não estamos treinados para lidar com isso, não temos escolha senão ficar angustiados. Podemos, a longo prazo, aprender a lidar com isso. Não temos que nos sentir cupados. A escolha que temos é começar um processo de mudança.

Vivemos em sociedades que nos fazem infelizes?

Há um estudo de Michael T. Kasser que mediu os níveis de consumismo de centenas de pessoas por 20 anos e concluiu que quanto mais alto menos felizes somos. Não se trata de um julgamento moral mas de uma constatação. A mentalidade consumista leva à procura dos prazeres imediatos, o que não traz felicidade. Atualmente os miúdos de dois anos já são inundados de anúncios. Isto é eticamente errado e um começo tortuoso para a felicidade.

Uma cultura de meditação pode criar gerações mais felizes?

Pessoas com mentes treinadas poderão fazer nascer crianças mais propensas a serem felizes. A cultura e a educação têm uma influência determinante na forma como o cérebro se começa a moldar.

Um budista tem mais probabilidade de ser feliz do que um cristão ou ateu?


Se aplicarmos os valores do amor e da compaixão chegamos ao mesmo sítio. São Francisco de Assis encarna todos os princípios budistas. O Dalai Lama disse uma vez que no budismo não achamos que exista um criador mas quem acredita tem de amar os outros, que são também produtos de Deus. Quando foi a Montserrat, na Catalunha, ver um eremita numa gruta, perguntou-lhe ‘Sobre o que tem estado a meditar na sua vida toda?’. Ele respondeu ‘No Amor’. E emanava tanto amor que o Dalai Lama ficou realmente inspirado. No fundo não há assim tanta diferença.

Portugal Mundial  com TEDtalk e www.matthieuricard.org

sábado, 4 de janeiro de 2014

GRANDES VULTOS DO PASSADO - Documentos inéditos do projeto Brasil: Nunca Mais - até agora guardados no Exterior - chegam ao País e podem jogar luz sobre o comportamento dos evangélicos nos anos de chumbo

O Projeto Brasil: Nunca Mais, o maior registro histórico sobre a repressão e tortura na ditadura militar até agora guardados no exterior chegam ao país desvendando os tempos obscuros dos protestantes históricos que sofreram tortura no país da época da ditatura militar. Essa fatídica época, faz pano de fundo para a história de fundação da IPU do Brasil, cujos ideais de justícia e liberdade sempre permearam seus líderes e idealizadores como o Rev. Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Um artigo da Isto é esclarece alguns nuances desses acontecimentos:


Fonte: revista isto é N° Edição:  2170 |  10.Jun.11
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No primeiro dia foram oito horas de torturas patrocinadas por sete militares. Pau de arara, choque elétrico, cadeira do dragão e insultos, na tentativa de lhe quebrar a resistência física e moral. “Eu tinha muito medo do que ia sentir na pele, mas principalmente de não suportar e falar. Queriam que eu desse o nome de todos os meus amigos, endereços... Eu dizia: ‘Não posso fazer isso.’ Como eu poderia trazê-los para passar pelo que eu estava passando?” Foram mais de 20 dias de torturas a partir de 28 de fevereiro de 1970, nos porões do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo. O estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP) Anivaldo Pereira Padilha, da Igreja Metodista do bairro da Luz, tinha 29 anos quando foi preso pelo temido órgão do Exército. Lá chegou a pensar em suicídio, com medo de trair os companheiros de igreja que comungavam de sua sede por justiça social. Mas o mineiro acredita piamente que conseguiu manter o silêncio, apesar das atrocidades que sofreu no corpo franzino, por causa da fé. A mesma crença que o manteve calado e o conduziu, depois de dez meses preso, para um exílio de 13 anos em países como Uruguai, Suíça e Estados Unidos levou vários evangélicos a colaborar com a máquina repressora da ditadura. Delatando irmãos de igreja, promovendo eventos em favor dos militares e até torturando. Os primeiros eram ecumênicos e promoviam ações sociais e os segundos eram herméticos e lutavam contra a ameaça comunista. Padilha foi um entre muitos que tombaram pelas mãos de religiosos protestantes.
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O metodista só descobriu quem foram seus delatores há cinco anos, quando teve acesso a documentos do antigo Sistema Nacional de Informações: os irmãos José Sucasas Jr. e Isaías Fernandes Sucasas, pastor e bispo da Igreja Metodista, já falecidos, aos quais era subordinado em São Paulo. “Eu acreditava ser impossível que alguém que se dedica a ser padre ou pastor, cuja função é proteger suas ovelhas, pudesse dedurar alguém”, diz Padilha, que não chegou a se surpreender com a descoberta. “Seis meses antes de ser preso, achei na mesa do pastor José Sucasas uma carteirinha de informante do Dops”, afirma o altivo senhor de 71 anos, quatro filhos, entre eles Alexandre, atual ministro da Saúde da Presidência de Dilma Rousseff, que ele só conheceu aos 8 anos de idade. Padilha teve de deixar o País quando sua então mulher estava grávida do ministro. Grande parte dessa história será revolvida a partir da terça-feira 14, quando, na Procuradoria Regional da República, em São Paulo, acontecerá a repatriação das cópias do material do projeto Brasil: Nunca Mais. Maior registro histórico sobre a repressão e a tortura na ditadura militar (leia quadro na pág. 79), o material, nos anos 80, foi enviado para o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), organização ecumênica com sede em Genebra, na Suíça, e para o Center for Research Libraries, em Chicago (EUA), como precaução, caso os documentos que serviam de base do trabalho realizado no Brasil caíssem nas mãos dos militares. De Chicago, virá um milhão de páginas microfilmadas referentes a depoimentos de presos nas auditorias militares, nomes de torturadores e tipos de tortura. A cereja do bolo, porém, chegará de Genebra – um material inédito composto por dez mil páginas com troca de correspondências entre o reverendo presbiteriano Jaime Wright (1927 – 1999) e o cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, que estavam à frente do Brasil: Nunca Mais, e as conversas que eles mantinham com o CMI.

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Somente em 1968, quatro anos após a ascensão dos militares ao poder, o catolicismo começou a se distanciar daquele papel que tradicionalmente lhe cabia na legitimação da ordem político-econômica estabelecida. Foi aí, quando no Brasil religiosos dominicanos como Frei Betto passaram a ser perseguidos, que a Igreja assumiu posturas contrárias às ditaduras na maioria dos países latino-americanos. Os protestantes, por sua vez, antes mesmo de 1964, viveram uma espécie de golpe endógeno em suas denominações, perseguindo a juventude que caminhava na contramão da ortodoxia teológica. Em novembro de 1963, quatro meses antes de o marechal Humberto Castelo Branco assumir a Presidência, o líder batista carismático Enéas Tognini convocou milhares de evangélicos para um dia nacional de oração e jejum, para que Deus salvasse o País do perigo comunista. Aos 97 anos, o pastor Tognini segue acreditando que Deus, além de brasileiro, se tornou um anticomunista simpático ao movimento militar golpista. “Não me arrependo (de ter se alinhado ao discurso dos militares). Eles fizeram um bom trabalho, salvaram a Pátria do comunismo”, diz.
Assim, foi no exercício de sua fé que os evangélicos – que colaboraram ou foram perseguidos pelo regime – entraram na alça de mira dos militares (leia a movimentação histórica dos protestantes à pág. 80). Enquanto líderes conservadores propagavam o discurso da Guerra Fria em torno do medo do comunismo nos templos e recrutavam formadores de opinião, jovens batistas, metodistas e presbiterianos, principalmente, com ideias liberais eram interrogados, presos, torturados e mortos. “Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, diz o mineiro Rev. Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, da Penha, no Rio de Janeiro. Antigo membro do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que promovia reuniões para, entre outras ações, trocar informações sobre os companheiros que estavam sendo perseguidos, ele passou quase um mês preso no Doi-Codi carioca, em 1971. “Levei um pescoção, me ameaçavam mostrando gente torturada e davam choques em pessoas na minha frente”, conta o irmão do também presbiteriano Ivan Mota, preso e desaparecido desde 1971. Hoje professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dias lembra que, enquanto estava no Doi-Codi, militares enviaram observadores para a sua igreja, para analisar o comportamento dos fiéis.

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Segundo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, antropólogo de origem presbiteriana, preso em 1962, antes do golpe, por participar de movimentos estudantis, os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis. “Os católicos não fizeram isso. Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, diz ele, considerado “elemento perigoso” no templo que frequentava em Niterói (RJ). “Pastores fizeram uma lista com 40 nomes e entregaram aos militares. Um almirante que vivia na igreja achava que tinha o dever de me prender. Não me encontrou porque eu estava escondido e, depois, fui para o exílio”, conta o hoje diretor da ONG Viva Rio.


O protestantismo histórico no Brasil também registra um alto grau de envolvimento de suas lideranças com a repressão. Em sua tese de pós-graduação, defendida na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Daniel Augusto Schmidt teve acesso ao diário do irmão de José, um dos delatores de Anivaldo Padilha, o bispo Isaías. Na folha relativa a 25 de março de 1969, o líder metodista escreveu: “Eu e o reverendo Sucasas fomos até o quartel do Dops. Conseguimos o que queríamos, de maneira que recebemos o documento que nos habilita aos serviços secretos dessa organização nacional da alta polícia do Brasil.” Dono de uma empresa de consultoria em Porto Alegre, Isaías Sucasas Jr., 69 anos, desconhecia a história da prisão de Padilha e não acredita que seu pai fora informante do Dops. “Como o papai iria mentir se o cara fosse comunista? Isso não é delatar, mas uma resposta correta a uma pergunta feita a ele por autoridades”, diz. “Nunca o papai iria dedar um membro da igreja, se soubesse que havia essas coisas (torturas).” Em 28 de agosto de 1969, um exemplar da primeira edição do jornal “Unidade III”, editado pelo pai do ministro da Saúde, foi encaminhado ao Dops. Na primeira página, há uma anotação: “É preciso ‘apertar’ os jovens que respondem por este jornal e exigir a documentação de seu registro porque é de âmbito nacional e subversivo.” Sobrinho do pastor José, o advogado José Sucasas Hubaix, que mora em Além Paraíba (MG), conta que defendeu muitos perseguidos políticos durante a ditadura e não sabia que o tio havia delatado um metodista. “Estou decepcionado. Sabia que alguns evangélicos não faziam oposição aos militares, mas daí a entregar um irmão de fé é uma grande diferença.”


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Nenhum religioso, porém, parece superar a obediência canina ao regime militar do pastor batista Roberto Pontuschka, capelão do Exército que à noite torturava os presos e de dia visitava celas distribuindo o “Novo Testamento”. O teólogo Leonildo Silveira Campos, que era seminarista na Igreja Presbiteriana Independente e ficou dez dias encarcerado nas dependências da Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo, em 1969, não esquece o modus operandi de Pontuschka. “Um dia bateram na cela: ‘Quem é o seminarista que está aqui?’”, conta ele, 21 anos à época. “De terno e gravata, ele se apresentou como capelão e disse que trazia uma “Bíblia” para eu ler para os comunistas f.d.p. e tentar converter alguém.” O capelão chegou a ser questionado por um encarcerado se não tinha vergonha de torturar e tentar evangelizar. Como resposta, o pastor batista afirmou, apontando para uma pistola debaixo do paletó: “Para os que desejam se converter, eu tenho a palavra de Deus. Para quem não quiser, há outras alternativas.” Segundo o professor Maurício Nacib Pontuschka, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, seu tio, o pastor-torturador, está vivo, mas os dois não têm contato. O sobrinho também não tinha conhecimento das histórias escabrosas do parente. “É assustador. Abomino tortura, vai contra tudo o que ensino no dia a dia”, afirma. “É triste ficar sabendo que um familiar fez coisas horríveis como essa.” 


Professor de sociologia da religião na Umesp, Leonildo de Campos, 64 anos, tem uma marca de queimadura no polegar e no indicador da mão esquerda produzida por descargas elétricas. “Enrolavam fios na nossa mão e descarregavam eletricidade”, conta. Uma carta escrita por ele a um amigo, na qual relata a sua participação em movimentos estudantis, o levou à prisão. “Fui acordado à 1h por uma metralhadora encostada na barriga” Solto por falta de provas, foi tachado de subversivo e perdeu o emprego em um banco. A assistente social e professora aposentada Tomiko Born, 79 anos, ligada a movimentos estudantis cristãos, também acredita que pode ter sido demitida por conta de sua ideologia. Em meados dos anos 60, Tomiko, que pertencia à Igreja Evangélica Holiness do Brasil, fundada pelo pai dela e outros imigrantes japoneses, participou de algumas reuniões ecumênicas no Exterior. Em 1970, de volta ao Brasil, foi acusada de pertencer a movimentos subversivos internacionais pelo presidente da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, onde trabalhava. Não foi presa, mas conviveu com o fantasma do aparelho repressor. “Meu pesadelo era que o meu nome estivesse no caderninho de endereço de alguma pessoa presa”, conta. 



Parte da história desses cristãos aterrissará no Brasil na terça-feira 14, emaranhada no mais de um milhão de páginas do Projeto Brasil: Nunca Mais repatriadas pelo Conselho Mundial de Igrejas. Não que algum deles tenha conseguido esquecer, durante um dia sequer, aqueles anos tão intensos, de picos de utopia e desespero, sustentados pela fé que muitos ainda nutrem. Para seguir em frente, Anivaldo Padilha trilhou o caminho do perdão – tanto dos delatores quanto dos torturadores. Em 1983, ele encontrou um de seus torturadores em um baile de Carnaval. “Você quis me matar, seu f.d.p., mas eu estou vivo aqui”, pensou, antes de virar as costas. Enquanto o mineiro, que colabora com uma entidade ecumênica focada na defesa de direitos, cutuca suas memórias, uma lágrima desce do lado direito de seu rosto e, depois de enxuta, dá vez para outra, no esquerdo. Um choro tão contido e vívido quanto suas lembranças e sua dor.  


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