Textos e Contextos



ADVENTO, TEMPO DE ESPERANÇA, DE SER CONSOLADO E ANUNCIAR AS NOVIDADES DO REINO
                        Por Rev. Ricardo José
Sermão de Abertura da Assembleia Geral ordinária da IPU do Brasil em 14 de Dezembro de 2013 na IPU de Renzo, Guarulhos - SP
Isaías 40,1-11
Introdução:
A esperança é uma nota característica do chamado Deutero-Isaías, pois o tempo do cativeiro está no fim. Quem primeiro deve saber dessa boa notícia é Jerusalém, a esposa do Senhor: “Falem ao coração de Jerusalém, gritem para ela que já se completou o tempo da sua escravidão, que o seu crime já foi perdoado, que ela já recebeu da mão de Javé o castigo em dobro por todos os seus pecados” (Is 40,2)
Na verdade a volta para Jerusalém faz parte da estratégia política dos persas de manter os povos dominados em sua própria pátria, favorecendo a sua religião em troca da submissão política.
Mas as pessoas exiladas têm outra visão dos fatos: analisam o exílio como consequência do pecado de uma parcela do povo judaico, especialmente da elite. Como Israel repara o seu pecado, aliás, sofrendo mais do que o necessário (cf. Is 40,2), chega o tempo da consolação: “Consolem, consolem o meu povo, diz o Deus de vocês” (Is 40, 1).
Para sustentar a esperança das pessoas exiladas, o profeta afirma: “Todo ser humano é erva e toda a sua beleza é como a flor do campo: a erva seca, a flor murcha, quando sobre elas sopra o vento de Javé; a erva seca, a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus se realiza sempre” (Is 40,6-8). As promessas de Javé se realizarão. A volta das pessoas exiladas é comparada a um rebanho conduzido por seu pastor, no amor e na ternura, em que são priorizadas pessoas mais frágeis (cordeirinhos) (cf. Is 40,11 b).
A Palavra é tão atual ao trazê-la para dialogar com os nossos dias que nos parece que o profeta enxerga nossa sociedade atual.
Vivemos claramente em uma sociedade dividida entre dominadores e dominados, entre opressores e oprimidos, entre favorecidos pela lógica da sociedade e desfavorecido pela mesma lógica. Quando pregadores ainda abordam temas neste campo semântico, muitas vezes o consideram como temas vencidos. Enquanto deixamos de lado a teologia, dantes chamada de libertação, surgem novas maneiras de se fazer religião aos pobres e as vitimas do ostracismo social, como a teologia da prosperidade, que é nada mais do que pedras clamando teologia de maneira torpe e adulterada em nosso lugar, pastores e pastoras vocacionados a proclamar a verdadeira libertação. Consolai, consolai assim o Senhor nos Chama para apascentar o seu povo. Estamos no tempo do advento, tempo de esperança, de ser consolado e anunciar as novidades do reino e libertar os cativos de um tempo de consumo e exclusão social.
Temos aqui, pastores, presbíteros, líderes que juntos são o sustento da mensagem e testemunho da Palavra no arraial presbiteriano unido. Quero convidar a todos a refletir comigo neste maravilhoso texto que chega ao nosso tempo mais atual do que nunca nos incentivando a proclamar libertação aos cativos.

I-         CONSOLAI O MEU POVO, DIZ O SENHOR...
O consolo é o tema por excelência de todo o livro de Dêutero-lsaías. Aqui o texto enfatiza claramente: há consolo para o povo de Israel exilado e cativo na Babilônia. Mas qual o real significado do verbo consolar no Antigo testamento?
Consolar no Antigo Testamento pode significar o mesmo que o consolar em nossa língua (ex.:Gn 37.35; Jó 2.11), mas pode, também, ter o sentido de auxiliar e ajudar (ex.: Lm 1.2,9; Is 12.1).
Desta forma o Consolai - Consolai tem o sentido de animar o povo com palavras e com ações. Todo o texto vai ilustrar e desdobrar essa ordem de Deus.
O fato de Deus repetir a ordem Consolai - Consolai, indica a urgência e a grande necessidade de acontecer o consolo para o povo, que é descrito como sendo o meu povo. Esta expressão meu povo lembra, a todos que ouvem essas palavras que, existe uma relação muito íntima entre Deus e o seu povo: a aliança. Este meu povo que está desanimado, cuja fé é tímida e pequena, cuja esperança enfraqueceu, deve ser consolado.
O consolo está na misericórdia de Deus: termina o tempo do cativeiro e todo o pecado é perdoado.
Olhando para a nossa realidade, somos chamados aqui a proclamar aos 4 cantos da sociedade em um tom pastoral a salvação através do consolo e abrigo da graça de Cristo Jesus.
No tempo do profeta o tempo de sofrimento estava chegando ao fim, pois retornariam para sua Jerusalém. Nós já vivemos o tempo de graça e salvação, do Cristo que transforma realidades e cura a alma dos que nele confiam.
Somo chamados a consolar para libertar, mas como? A resposta está na....

II - VOZ DO QUE CLAMA NO DESERTO (VV. 3-5)

Voz do que clama no deserto. Não fica claro no texto de quem é a voz. Acho que essa voz não viria do céu ou de anjos como vi em alguns comentários... mas o importante é a sequência dos fatos aqui:
A ordem é a de consolar e o primeiro passo do caminho do consolo é a preparação do caminho no deserto, é agir! O consolo consiste aqui na ação que se desenvolve na preparação do caminho de Deus no deserto.
É deserto que separa o povo exilado e cativo de sua terra, de sua Jerusalém. Mas também faz lembrar a peregrinação dos antepassados pelo deserto rumo à terra prometida. Aqui vemos um novo Êxodo.
A ideia de preparar uma estrada para Deus é inspirado nas estradas da Babilônia, que eram caminhos de desfiles para a honra e a glória dos deuses babilônicos e estes mesmos caminhos trouxeram a Israel a destruição, a miséria, o cativeiro e o exílio. Por isso é bem destacado no texto que este caminho do deserto é o caminho de Deus:
“Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo vale será aterrado, e nivelados, todos os montes e outeiros; o que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos, aplanados. A glória do SENHOR se manifestará, e toda a carne a verá, pois a boca do SENHOR o disse.”
Este caminho do Senhor fará com que todas as pessoas vejam a glória de Deus. Esta é a meta, que Deus seja glorificado, pois, onde Deus recebe a glória, acontecem libertação e vida nova.
Olhando para a nossa realidade, creio que o caminho do Senhor nada mais é que o testemunho fora das 4 paredes da Igreja e o Deserto é a sociedade capitalista que impedem as pessoas a se aproximar da ação transformadora de Cristo.
Somos chamados a glorificar o Senhor através do testemunho prático, no dia-dia com pessoas fora do nosso arraial. Quando eu era pastor em tempo integral, isso me incomodava muito, pois só tinha mais contato com o rebanho, o circulo de amizades era dentro do rebanho e não tinha oportunidade de me relacionar com outras pessoas. O clamar no deserto muitas vezes é agir com amor e justiça com o próximo e assim Deus é glorificado. São Francisco tem a sua célebre frase que sempre levo no meu coração: “evangelize, se precisar fale.”
Somos chamados a consolar, a preparar o caminho para a gloria de Deus através de nossa ação e agora somos chamados à...

III- ANUNCIAR AS BOAS NOVAS (vv. 6-11)
Novamente não é descrito de quem vem a voz que clama. Mas novamente a ordem: Clama!, E aí se recebe a resposta na forma de uma pergunta: Que hei de clamar? A pergunta os relatos de vocação de Isaías (cap. 6) e de Jeremias (cap. 1). A pergunta — que hei de clamar? — é fundamentada com a realidade em que vive o povo. (uma pergunta que todo o pastor e pastora faz antes de preparar o sermão de domingo...)
Primeiro o profeta mostra o poder de Deus comparando o ser humano com erva tão delicada que ficam susceptíveis com os intemperes do tempo. Toda a babilônia, seu poderio, seu imperador não são nada diante do poder de Deus. Diante disso o profeta precisa de uma estratégia para poder agora anunciar as boas novas de libertação e salvação subindo num monte alto e dizendo tudo que Deus é e pode realizar na vida do povo: um Deus cheio de força; com o seu braço poderoso, um pastor cuida do seu rebanho junta os carneirinhos, e os carregará no colo, e os guia com carinho as ovelhas que dão de mamar...
O profeta aqui causa uma antítese na lógica do leitor! É um Deus forte, poderoso, Senhor das batalhas, que somente o seu hálito derruba os poderosos e ao mesmo tempo é um Deus apascentador, pastor, carinhoso, delicado e porque não um Deus com características maternas...eis aí o vosso Deus, como diz o profeta!
Caro pastor, pastora, presbíteros e presbíteras... ao mesmo tempo que somos chamados a exercer nossa veia profética na sociedade proclamando justiça, apontando as barbaridades de exclusão do oprimido, somos chamados a amar, a apascentar, a pegar no colo, a afagar os corações mais doridos e sermos uma igreja pastoral, cuidadora.
Somos chamados a libertar dos medos, das feridas das injustiças, libertar do ódio, da violência, da ignorância, da alienação, da falta de oportunidades, do risco de violência contra o jovem, contra a mulher, contra a criança, do abuso de poder pelas autoridades políticas e eclesiásticas.
Somos chamados a ter o toque libertador de Cristo. Neste tempo de advento, tempo de consolo, testemunho e cuidado que possamos nos renovar na graça do Senhor Jesus Cristo. Feliz Natal de Cristo Jesus e um 2014 repleto de benção sem medida!




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